Admitimos que com a evolução alguns costumes e hábitos vão se perdendo ou se transformando. O que se espera é que seja para o melhor, conforme o significado da palavra “evolução” que no dicionário da língua portuguesa é dado por desenvolvimento, tudo aquilo que se relaciona com a melhoria ou com o crescimento em determinada área. O que não sei é se a maneira nova de celebrar os aniversários natalícios, é sinal da evolução ou estamos nos encurralando cada vez mais no nosso ego. Não sou dos anos 80, mas tenho experiência da forma como se celebravam os aniversários antes do andróide, antes de algumas redes sociais. O que nos interessa é falar sobre como celebramos hoje. Vou recapitular, porque sei que todo mundo sabe como é que as coisas funcionam nestes dias.
Hoje
é considerado um aniversário bem passado se houver uma sessão de fotografias
feita dias antes e mandadas para familiares e amigos. Porque o que queremos é
que as pessoas usem as nossas lindas fotos para nos felicitarem, escrevendo
lindos textos, copiados do nosso melhor amigo, o vovô Google. A mim,
particularmente me pergunto, quando alguém me manda suas fotos um dia antes do
seu aniversário, se é uma sugestão ou obrigação lhe postar. Porque me mandar
fotos é sinónimo de “me posta.” Até que não seria mau postar, o que me dói é
que, substituímos o abraço, o diálogo cara-a-cara. Pode-se até, conviver com a
pessoa debaixo do mesmo tecto, partilhando do mesmo pão, mas no dia do seu
aniversário a pessoa não vai dirigir-lhe uma palavra sequer, prefere se trancar
no seu quarto e lhe postar, fazer o copy &
paste dos textos na internet.
Infelizmente
não parámos por aqui, não basta o agradecimento que fazemos em privado, depois
fazemos screenshot das palavras mais
sinceras e muito pessoais de nossos familiares e amigos e postamos. Será que
essas pessoas não tinham possibilidade de postar? Claro que tinham, mas acharam
que fosse um assunto que merecesse privacidade. Mas como estamos consumidos
pela aparência queremos mostrar ao mundo que somos amados e, até partilhamos o
que não deveria se partilhar.
Também
considera-se melhor aniversário e bem passado se houver a famosa “Festa
surpresa”, aquele em que se receber vários presentes, for postado em todos os status e dos seus contactos do WhatsApp, quando se é postado por todos os
amigos do Facebook, quando se é felicitado
por todos os amigos do Telegram,
quando for postado em todas as redes sociais e com textos longos de elogios e
bajulações. No fim de tudo ficamos sozinhos, sem amigos. Só percebemos quem são
os verdadeiros amigos quando ficamos um mês sem internet ou sem acesso às redes
sociais. Várias vezes os meus amigos e familiares me criticam quando, durante
as férias, me desligo das redes sociais e fico incomunicável. Têm razão, mas se
tivessem experimentado a sensação de viver o real sem interferência do mundo
virtual perderiam a pobre razão que lhos tinha dado.
In Efeitos da Quarentena
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