Diariamente
os nossos ouvidos são atormentados pela notícia de subida de preços dos
produtos básicos. Desde o pão até ao meio usado para buscar o próprio pão, o
vulgo “chapa”. A vida nos pesa aos ombros. Lágrimas e estômago vazio viraram
“emblema” dos moçambicanos, condenados a pagar o que nem sequer entendem. É por
isso que uns afirmam que SER MOÇAMBICANO
EXIGE CORAGEM! E, é verdade. Que entenda-se que, ser moçambicano e estar em
Moçambique são duas coisas diferentes. E eu nem sei em que situação me
encontro!
ANTÓNIO
COITADO, nome do meu primo “viziterno”, após concluir seu ensino secundário em
Maputo, seguiu o curso de “professorado”, num dos IMAP’s do País, onde saiu com
o diploma de reconhecimento por ter sido um dos melhores estudantes, com média
final: 19 (até reclamou ter sido injustiçado, média dele seria 20). Logo após
a sua graduação, tratou da documentação e correu atrás da vaga do emprego. Corrida
que lhe custou suor, dinheiro e sono. Quem é moçambicano sabe do que estou a
falar. Aqui não se pede pão, faz-se troca de “pães”, literalmente.
Após
dois anos de tanta correria e gastos na actualização dos documentos, já no
desespero, lhe apareceu uma vaga em Inhambane, distrito de Zavala, numa localidade que agora me foge da memória, mas foi lá
onde gastou toda a sua juventude. Onde enferrujou seus sonhos e planos. Porquê?
Porque o emprego que teve, lhe custou 2 anos de vida sem salário. Sabem o que
significa um professor primário ter que pagar uma vaga de 80 mil, recebendo 5
mil? Vocês não entendem! É que dentro disso, ele tinha que ser exemplar na
escola, tinha que ir limpo, animado e, com estômago sorrindo. Eram as
exigências da direcção. Sobre o estômago é meu acréscimo, a direcção nunca se
importou com isso.
ANTÓNIO
suportou tudo isso, pagou a dívida do emprego e, continuou trabalhando por uns
tantos anos. Mas a saúde que não é irmã de ninguém, lhe traiu e, o pouco que
ganhava passava a depositar nas farmácias. Desejava alargar os seus estudos,
para também alargar o seu ganho mensal, mas não tinha acesso á escola. Até teve
oportunidade de transferência para uma zona urbana, mas pensando bem, desistiu,
pois tinha que pagar não sei por quantos anos! É chato.
O
mais triste foi quando ele ficou de baixa (hospitalizado). Ficou magro, “esqueletado”, sem esposa e sem filhos, a
mãe e os irmãos é que cuidavam dele. E, saiu com vida, graças a Deus. Mas a
desgraça ocorreu depois de 5 meses, quando recebi a triste notícia do seu
suicídio. Antes de cometer o tal acto macabro, me deixou um bilhete com
seguinte escrito: “Desculpa primo, te
admiro muito, mas não tive a mesma sorte que tu. Os nossos antepassados têm
preferências. Penso que tu tens mais atenção deles. Espero que me entendas,
nesta situação já não dava para continuar. A vida exige tanta coragem, que já
nem a tenho, mas agora pergunto: o que é mais corajoso, o suicídio ou a sobrevivência?”.
E, assim se foi. Deixando memórias de luta e muito sofrimento e, um bilhete que
me deixa tão confuso até hoje. Na verdade, eu não sei quem é o mais corajoso
entre mim e ele: Ele que se suicidou ou,
eu que sobrevivo ainda?
Eu
estou ciente de que a decisão que ele tomou é imoral, a vida é sagrada, mas
também sei que só nos limitamos a julgá-lo porque não sabemos o que realmente
passou. Jogamos palavras que não voltam, olhares que assassinam, rejeitamos e
maltratamos só para encher os nossos bolsos que transbordam de orgulho.
Creio
que fui cego, todos fomos cegos, não vimos além do que ele passava, talvez
porque a vida no pais de…é muito cara. Aquele jovem desempregado, órfão, aquela
idosa sem tecto, aquela mãe solteira que anda cabisbaixa, precisa de ajuda,
precisa da partilha, de Amor, mas o que fazemos? Hoje estou aqui me perguntando
o que falhou para que ele se matasse. Não sei, mas de uma coisa tenho certeza.
Ele não queria morrer, ele tinha certeza do futuro que lhe esperava, mas não
teve força de vontade para continuar em frente sem deixar cair uma lágrima, não
foi tão forte para sobreviver mergulhado em um mundo à cor de hipocrisia. Ele
queria ter ficado aqui, mas ninguém o ajudou, nem eu pude o ajudar.
Télio
Mbeve e Nunes Cristóvão
1 Comentários
É lastimável o que aconteceu com um jovem cheio de vida e que tinha muito para dar a está nação, injustiçado na sua nota de formação mas 19 valores ou 95%dependendo da metodologia de ensino em cada instituição governamental ou privada, este jovem tinha muito para dar volto a repisar a expressão, as vezes a vida nos coloca em situações em que de um lado temos a parede e de déficil atravessar e do outro uma espada idêntica ao parede aí já vem os pensamentos sobte a vida e a pergunta, quê farei perante a esta situacao e se não for forte o suiscido é uma das formas para escapar disso porque a sobrevivência as vezes nos custa a vida de mais, trabalhando para enriquecer a vida dos barrigudos os homens insacio de ver as contas engordando com o suor do povo, que absurdo é esse cobrar 80 mil para garantia de emprego para uma pessoa que vai receber 5mil , do início já o roubaram a sua juventude e os seus sonhos foram roubados enquanto ele se esforcava em transmitir o conhecimento mas com estômago vazio. Por isso digo Moz é país do pandza.
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