Estou a vender a minha fé

 


Não me resta mais nada, só posso vender a minha fé. Porquê? Tenho muitas razões. Meu pastor me iludiu, disse que as soluções dos meus problemas estão no Senhor, bastava que eu pagasse o dízimo. Até que estava funcionando: fui promovido no serviço, pagava dízimo todos os meses, o que eu não sabia é que era tudo dom de Deus, não tinha nada a ver com a intercessão nem milagre do meu pastor e agora veio essa pandemia, o pastor que curava doenças também mandou fechar a Igreja por medo da doença, mas ele diz que cura doenças. Então, será pelo respeito às medidas tomadas pelas autoridades civis? Não sei, porque se curasse de verdade nenhum governo proibiria isso, porque a humanidade está, desesperadamente, à procura da cura.

No meu serviço fui demitido como forma de reduzir o número de funcionários, porque a empresa está a operar abaixo de 10% por conta de COVID-19, e o pastor ainda pede o dízimo mesmo sem frequentar a Igreja. Será que é coisa de Deus? Que Deus é esse? Se fossem coisas de Deus seria o Amor transbordando e não bando de supostos pastores querendo sobreviver à custa dos pobres, miseráveis, vulneráveis, sedentos de pão e da verdadeira Palavra de Deus.

Respeito as Igrejas que cancelaram as Missas e os cultos, encerraram a catequese e as escolas dominicais, cancelaram peregrinações, festas e festivais, mas procuraram uma forma de responder e alimentar a fé dos crentes na dimensão material e espiritual através de transmissão de Missas e cultos através de meios de comunicação de massa, que doaram equipamentos para a luta contra o COVID-19, doaram produtos da primeira necessidade aos que mais necessitam e marcaram dias para jejuns e orações contra essa pandemia.

Essa pandemia veio me ensinar muita coisa, e ainda estou aprendendo. Aprendi que:

A verdadeira Igreja é a que prega o amor e a solidariedade e não a prosperidade e milagres;

A Igreja não é o edifício, mas as pessoas;

O encontro dos cristãos alimenta a alma;

A igreja doméstica é infalível;

Os dízimos só servem para engordar bolsos de alguns que se intitulam profetas;

As verdadeiras igrejas são solidárias e as falsas alimentam-se das migalhas dos pobres;

Que existem verdadeiras e falsas igrejas;

Que nem todas as Igrejas possuem as dimensões  material e espiritual;

Que nem todos os que se dizem operar em nome de Deus são pessoas de boa fé.

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