Ultimamente tem-se
verificado uma cegueira terrível, por se preferir perseguir mais o que aparenta
ser, ou o que chama atenção; pouco importa a própria realidade. Às vezes dá-se
crédito ao que faz sentido, por mais que não seja a realidade ou o que poucos
esperam. Por isso não poucas vezes caímos no erro de falar mal dos outros,
quando que temos as possibilidades de perguntar ao visado e, de este, nos
responder de acordo com o que vive. Talvez seja prazeroso inventar um filme que
se adequa ao perfil da pessoa, mas a verdade na vida sempre mostrou-se melhor
que a mentira.
Vou contar uma estória:
Nkaringana wa Nkaringana...
Era uma vez – é assim
que a maioria de estórias começam – um menino que vivia num orfanato havia
muitos anos e, a julgar pela sua idade, já podia ter sido adoptado por um
casal. Ele passava os seus dias ansioso por este maravilhoso dia que mudaria a
sua vida, mas havia um detalhe que o incomodava. Era vegetariano, sentia-se
diferente e não gostaria de ser pesadelo para a sua futura família. Certo dia,
chegaram ao orfanato dois casais, dos quais um vegetariano e outro não.
Após a apresentação
entre o rapaz e as duas famílias, a directora do orfanato perguntou ao menino
com qual casal ficaria. Ele pediu um tempo para decidir, ciente de que a vida é
feita de escolhas, e que se escolhesse mal, teria de viver com isso a sua vida
inteira e, poderia ter desperdiçado a sua única chance de ser feliz. Portanto, tinha
de fazer uma escolha certa, o que lhe custaria algum tempo. O miúdo preferiu
não se agitar nem se precipitar, pelo que respondeu à directora que precisava
de um tempo para pensar. O tempo estimado foi de uns cinco dias.
«Já agora, se eu te pedisse para adivinhares a resposta
do menino, o que me dirias? Pois bem!!! Por ora, mantém a tua resposta e vê a
do garoto).»
Volvidos três dias, a
directora ligou para o casal vegetariano para a legalização dos documentos,
enquanto o miúdo se decidia. Com todos documentos feitos e passado o tempo
requerido pelo garoto, a directora chamou-o para saber qual fora a sua decisão
e assim poder confirmar ao casal escolhido. No entanto, a directora ficou
surpresa com a decisão do miúdo. Ele escolheu o casal não vegetariano, com a
justificativa de que se este casal o aceitar como ele é, fizer sacrifício por
ele, se sentir-se-á verdadeiramente amado, ao passo que o outro casal não faria
muito sacrifício para adoptá-lo como filho.
Phúú Nkarigana!!!
Acredito que durante
a leitura desta estória, ficaste convencido que o miúdo escolheria o casal vegetariano.
É o mais óbvio, é claro. Qualquer um poderia pensar igual. Mas o rapaz nos ensina
que nem sempre o que chama atenção é o correcto a seguir e, nem sempre o que
menos brilha é o melhor para seguir. Lembremo-nos do ditado: “Nem sempre o que reluz é ouro.” Atenção!
Não estou a defender que devemos desprezar o que há de melhor em nome da
prudência. E o amor ultrapassa as leis da Física, porque o amor é resultado da
harmonia entre os contrários, o que em Física é impensável. Corpos de sinais
contrários repelem-se.
A lei do amor inclui
a aceitação do outro tal como é, com as suas diferenças, com os seus defeitos.
E é disso que o miúdo precisava! É isso que significa amor: aceitação do outro,
independentemente dos seus destemperos ou se é vegetariano ou não. É deveras necessário fazer sacrifícios um pelo outro
quando se ama. Quantas vezes fizemos ou deixámos de fazer coisas de que
gostávamos, pela pessoa que amamos!? Portanto, esta família se gosta realmente
do menino, vai acolhê-lo e vai amá-lo tal como é, sem pretender que o menino
seja o que eles são.
No mundo hodierno em
que se tenta tapar o Sol pela peneira,
em que se está mais atento às aparências em detrimento do que é a essência; um
mundo moderno e globalizado, onde se substituiu o “Cogito ergo suum” (Penso logo existo) cartesiano pelo “Digito
ergo suum”(digito logo existo),
em que aquele que não usa um SmartPhone
é considerado ultrapassado, porque não digita, a lição deste miúdo nos bate bem
de frente. É importante não nos determos nas aparências. Sê tu, o rei neste
mundo de cegos. Começa contigo!!
Acredito que todos
queremos uma vida melhor e digna, portanto, bem-sucedida. Trabalhamos com
intuito de ter uma vida melhor, apesar de cada qual seguir o seu caminho,
porque Deus deu capacidades a cada um de nós, contudo, as mesmas são diferentes.
Enquanto alguns
trabalham e têm tudo, outros trabalham pouco e têm tudo, outros ainda,
trabalham muito e têm muito, mas também existem aqueles que desde a infância
lutam dia e noite, mas nada têm. O importante, para estes últimos, é não parar de lutar; cada qual tem o seu tempo. O que é
sonho para ti hoje, amanhã será vida para ti e sonho para o outro. Ambicionar coisas melhores é um verdadeiro caminho para
progredir, mas os meios e o tempo que levar neste processo é muito mais importante.
Aprendamos que a vida não é o que parece ser, mas o que
ela é. O mesmo para com as pessoas, não são o que aparentam ser, mas são o que
são sem os atributos, os acessórios e enfeites externos.
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