Uma vez recebi de uma amiga um texto das
bem-aventuranças do ancião, e achei muito interessante, que prefiro partilhar
convosco porque particularmente levou-me a uma reflexão muito profunda sobre a
terceira idade. Vou citá-lo literalmente apesar do desconhecimento do autor, não
vou perder a oportunidade de fazê-lo falar mais alto ao mundo que precisa muito
de aprender e ter muita atenção para com essa idade super maravilhosa:
“Bem-aventurados
aqueles que compreendem os meus passos vacilantes e o tremor das minhas mãos.
Bem-aventurados
aqueles que distinguem nos meus olhos as lentas reacções.
Bem-aventurados
aqueles que percebem o esforço dos meus ouvidos para poder captar suas
palavras.
Bem-aventurados
aqueles que fingem não ver o café que derramei na mesa.
Bem-aventurados
aqueles que me alegram com o seu sorriso e me deixam falar de coisas sem
importância.
Bem-aventurados
aqueles que não replicam: «Já me contou isto tantas vezes»'.
Bem-aventurados
aqueles que sabem orientar a cabeça para as coisas do passado.
Bem-aventurados
aqueles que me fazem sentir afecto em vez de abandono.
Bem-aventurados
aqueles que compreendem como me esforço para carregar a cruz com paciência.
Bem-aventurados
aqueles que amenizam, com sensibilidade e atenções, a minha caminhada para o
céu.”
O que me chamou mais atenção neste texto é
a forma que o autor coloca a situação dos idosos em poucas frases. Na nossa
sociedade os idosos têm sido tratados de uma forma desumana e de ingratidão
pelos jovens até mesmo pelos próprios filhos. Eu sei que entre cinco pessoas,
duas ou mais podem discordar de mim.
Mas não são coisas do planeta Júpiter. Temos visto, nas zonas urbanas, muitos velhinhos
pedindo esmola. Não poucas vezes encontramo-los limpinhos, porque saem das suas
próprias casas e/ou dos seus filhos. Muitos deles não aceitam ser recrutados
para os lares de idosos ou outros asilos sociais de algumas congregações
religiosas. Algumas perguntas podem fluir em nós perante esta situação. Uma
delas é por que não aceitam ter uma vida normal, onde teriam a satisfação das
suas necessidades primárias onde poderiam ter até um plano de saúde “perfeito”?
Talvez porque o instinto paternal continue
reinando neles ou talvez porque necessitam do calor e carinho dos filhos, netos
e bisnetos. Mesmo que alguns deles não encontrem a paz que tanto anseiam, por
serem obrigados – pelos seus filhos – a sair para as praças pedindo esmola.
Entende-se que a vida é uma guerra contínua, mas não seria a vez de os filhos
cuidarem dos seus progenitores como estes cuidaram deles primeiro? Não que seja
retribuição por terem lhes dado a vida ou cuidado deles quando podiam, mas é
uma obrigação moral e humana, cuidar dos seus pais.
Outros velhos passam os últimos dias nos
asilos. Recebem visita uma vez por mês ou mesmo por ano, no dia do seu aniversário,
no natal ou numa dessas famosas festas. Não que seja mau, nem estou contra
asilos. Mas é muito humano ter os seus por perto. Se o filho é capaz de pagar
um asilo, com certeza seria capaz de pagar alguém para ajudá-lo a cuidar do seu
progenitor na sua casa.
Outros filhos ainda consideram os seus pais
como aqueles que atrapalham a vida, porque quer comer carapau inteiro e a presença do seu pai é um impasse para esse
intento. Para alguns jovens, a idade é um motivo mais que suficiente para
considerar seus pais, feiticeiros, atribuem a eles a desgraça nas suas vidas.
Ora porque os seus pais querem lhe matar agora que tem esposa, e a sua vida
está a andar bem. Agora a pergunta é: os seus pais é só agora que lhe querem
matar? Agora que eles dependem quase de si para a sua sobrevivência? Não poderiam
ter feito isso quando era ainda criança, que teria sido muito mais fácil? Em
fim! Só quem não trabalha duro pode pensar assim. Alguém que ainda não percebeu
que a vida é um jogo. Se te criou desde pequeno não vai atrapalhar sua vida
hoje. Creio que o sucesso dos filhos é orgulho dos pais. Imagine aquele pai ou
aquela mãe que não teve a oportunidade de ir à escola, mas deu tudo para o
filho se formar.
Temos de ter em conta que se trata duma
fase muito especial, onde paramos com o corre-corre
para lutar pela sobrevivência. A nossa vida passa a andar mais devagar e os
movimentos tornam-se-nos mais lentos, os sentidos ficam menos sensíveis.
Temos de assumir essa idade cientes de que
também eles foram mais fortes e mais ágeis, mas agora a cada dia perdem uma
célula e tudo indica que estão peregrinando para o Céu. O importante é que não
se trata do nosso fim, pois a nossa vida continua através dos nossos
descendentes, as memórias que deixamos também ficam eternas de geração em
geração. Lembremo-nos que se hoje somos bebés, crianças, adolescentes ou jovens
amanhã seremos idosos. E estou certo de que ninguém vai gostar que os seus
filhos lhes trate com desdém, desprezo ou indiferença pelo simples facto de ser
velho! As nossas atitudes de hoje refletir-se-ão amanhã, o que significa que o
que fazemos com os nossos pais hoje por eles serem velhos, amanhã os nossos
filhos farão connosco e com mais perfeição.
Lembro-me de uma estória:
Havia na sociedade, um homem bem sucedido
na vida, comia do que quisesse e quando quisesse. O seu êxito era de levantar
bocas no seio da comunidade. Contudo, não cuidava da sua mãe, sempre ordenava
que a esposa lhe servisse comida em cascas de côco e dava ao seu filho de 7
anos para entregar a avó. Certa vez o homem viu o seu filho de apanhando e coleccionando
cascas de côco que havia na sociedade. Então, o pai intrigado perguntou: «O que queres fazer com essas cascas de côco, filho?» Ao que o filho respondeu: «Estou vendo que as pessoas velhas comem em
cascas de côco. Então estou a coleccionar para eu servir nelas a sua comida,
pai. Assim como você faz com a vovó. É que temo que quando você for velho, não
haja mais, ou seja difícil encontrar cascas de côco para nelas eu servir-lhe a
comida.»
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