COMEMORA COMIGO
Faz parte do nosso
quotidiano postar eventos festivos, o caso de “corte de bolo” como
habitualmente chamamos, festas de casamento, baptismo, graduações e outros.
No meu livrinho intitulado
“Efeitos da quarentena” falei sobre
isso, mas com ênfase nas felicitações em aniversários e solidariedade na perda
de um ente querido. Vou parecer contra a globalização, o progresso e o
desenvolvimento da tecnologia. Mas na verdade estou a favor, desde que estes
elementos todos sejam usados adequadamente. Porque eu mesmo – sem querer me
vangloriar – sou um dos usuários da tecnologia, por isso acredito que ela é
muito boa, basta apenas saber usá-la. Não me refiro à manipulação das máquinas,
mas do proveito em si da tecnologia.
É graças à globalização
que também virou moda postar sobre datas comemorativas, como o dia da mulher
moçambicana, dia da família, dia da criança e dia de avós. Este último evento,
a sua celebração é mesmo fruto da globalização, começámos a celebrar porque
alguns países que estão mais ligados a nós, o fazem.
Não quero criar
padrões nem obrigar as pessoas a deixarem o que mais gostam de fazer, apenas
convidá-las a reflectir sobre seus actos. Muitas vezes fazemos porque os outros
ou muitos fazem e pouco nos questionamos o porquê. Lembremo-nos do ditado que
diz: “o facto de alguém viver perto do
cemitério, não significa que esteja morto”, o que neste caso,
traduzir-se-ia deste modo: o facto de a maioria fazer tal coisa, não significa
que eu também deva fazer. Sobre dia da mulher por exemplo, as manas amarram
capulanas até lenços nas cabeças, como mulheres moçambicanas. Claro que é
tradicional. Os asiáticos, no entanto, que trouxeram para nós, usam no seu
verdadeiro sentido cultural. Para nós, contudo, várias vezes se verifica o uso da
capulana e lenços no dia sete de Abril, para podermos tirar fotos e postar. Sentimo-nos
mulheres moçambicanas.
Ser mulher
moçambicana é mais que cingir capulana em todo o corpo até à cabeça, usá-la
para fazer roupa de moda. É preciso usá-la para carregar seu bebé nas costas,
para carregar trouxas, carregar todos os desafios que a vida nos proporciona e
fazer o valor da capulana se sentir, em vez de usá-la para tirar foto, enquanto
nos outros 364 dias, com excepção do dia 07 de Abril, o seu corpo é como um show totalmente grátis. O ser mulher
moçambicana está na forma de agir e não na capulana.
Cenário parecido
assiste-se, com muito pesar, no dia da família. Como tudo está em volta das
redes sociais, quando chega o Natal do Senhor, celebra-se o dia de família.
Mandamos fazer camisetas com os nossos nomes para toda família, tiramos fotos e
nos divertimos. É fundamental um convívio familiar depois dum ano longo com
membros da família espalhados pelos vários cantos do mundo. Trata-se de um
momento único, mas repete-se a mesma história, Família é mais que isso. Família
é sinónima de união e amor em todos os momentos da vida até naqueles que o mundo
todo está contra nós. Não é à toa que se costuma dizer família em primeiro, família em segundo e família em terceiro. Fazem
eco em mim agora as palavras de Plutónio quando diz “Família não é só no aniversário e Natal”. E Joseph Morgan, que
interpreta o papel de Nicklaus na saga “Os
Originais” diz «Tudo pela família,
sempre e para sempre.»
É preocupante o que
acontece no dia da criança e no dia de avós. A música é a mesma, tirar fotos
com essas pessoas para postar e o mundo ver e, às vezes nem uma refeição digna,
se quer, preparam para elas. Essas pessoas precisam de amor e carinho todos os
dias e não só nesses dias.
Acham que as crianças
e avós que enchem os nossos status nesses
dias, vão saber que são amadas? Nem se quer usam das magníficas redes sociais. Dêem-lhes
amor, atenção e carinho ou ainda podem oferecer presentes, façam festas, garantam
que elas sintam a essência do amor. E que não seja só em datas comemorativas,
mostrem e dêem o que mais necessitam sem se preocuparem em dar satisfação ao
mundo.
2 Comentários
Bem observado! Olha que tudo parece mecânico, sem reflexão, sem uma real motivação.
ResponderEliminarOra, a época da "longa noite" tirou, numa análise superficial, a atitude crítica do homem, o uso demasiado da razão, e o suplantou pela emotividade, sentimentos, guiado pelo coração e crenças; entretanto, o Renascimento, recuperou as bases da antiguidade clássica no referente à utilização sa razão, e está fase histórica, tirou "do seu caminho" o sentimentalismo. Agora, a má concepção e o mau aproveitamento dos ganhos da modernidade fazem de alguns, seres de "isto não foi feito por acaso, os 250 de velocidade não foram postos para embelezar".
Força ilustre!
Tony Bata, o eterno discípulo da Atena.
Muito obrigado ilustre. Por uma sociedade mais racional e caridosa no seu verdadeiro sentido.
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