Arlinda, meu longínquo “Amor”

 


Ar, como sempre te chamei até me dá um nó na garganta ao escrever esse nome. Ando zonzo, meu orgulho quase não te escrevia esta carta, mas essa época me leva até a ti, desde semana passada os fantasmas do passado me perseguem, tento me enfiar em casa, mas também na TV as publicidades é sobre casais felizes, namorados sorrindo, passeando pela cidade os banners são sobre dia dos namorados, as lojas superlotadas e filas longas comprando presentes para os seus amados.

 

Já concordei com muitos ditos de São Paulo, mas nunca esteve tão certo quanto quando disse que o amor tudo vencia. E já que citei o escritor bíblico, começo por te lembrar que antes de partires, recitamo-nos esse trecho paulino.

Teus olhos brilhavam quando repetiste comigo: Ele tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. Era a nossa citação predilecta e você é que me ensinou.

Partiu com o meu coração partido, mas essa citação foi o melhor consolo, foi o lenço das minhas lágrimas. Semanas depois, ao percorrê-la entendi outra coisa:

“O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá.” E eu dizia a mim mesmo: a ciência desaparecerá, mas foi crucial que ela partisse, era a última vaga e estudar fora por si só já era motivo de longos respeitos e dinheiros.

Lembrei-me que estavas indecisa sobre a viagem, mas após longas conversas tu mesmo disseste: É pelo amanhã, Luís, é para que o futuro seja melhor. Casamos logo que eu regressar.

 

Me deixei desviar pelas lembranças, porém, se tiver lido até aqui, peço-te mais um pingo de paciência. Talvez consiga a seguir me expor melhor.

Esta carta levaria muitos parágrafos se eu quisesse escrever tudo o que me vem perturbando, vontade é o que tenho de mais, sabe que escrever é minha terapia. Mas não farei isso, Ar, o tempo nunca é de ninguém. Constrói e destrói, já não posso escrever tanto pois duvido que continues com a mesma paciência. O tempo fez-nos mal, aliás, quiçá tenha sido a distância.

Hoje fiquei pensando nesta data, seria o nosso e o meu primeiro 14 de Fevereiro namorando. Nunca tive essa graça, meus namoros sempre começaram depois de Fevereiro e nenhum levou um ano (risos). Mas contigo eu me esforcei e jurei que seria diferente, aliás, eu já era diferente, erámos um casal de provocar inveja e boatos.

Tudo acaba. Eu, que era malandro, quando te conheci me endireitei. É como Nikotina repou: “fizeste um player ficar calmo, chamem-me Balotelli”. – Foi o que se passou comigo.

Das vezes que escorreguei, você entendeu, mas hoje penso que ninguém perdoa definitivamente, só se colocam as mágoas a arrefecer e nalgum dia elas aquecem e explodem, senão não teria sido daquele jeito.

Ar, é 14 de Fevereiro e queria tanto ter passado essa data contigo. Nunca desejei tanto algo... Eu disse sim, que não havia problemas, que eu seguiria em frente...

Mas, Ar

Você é meu ar

Não consigo seguir

O mal foi te deixar partir?!

Não queria que esta carta parecesse um choro ou uma lamentação. Escrevia com intento de matar a saudade das nossas lembranças, quando começava, eu só pensava que podia escrever que desejo que seja feliz na sua escol(a)ha, que eu também serei, mas toda vez que me lembro de ti, uma amarga certeza me fere: Não terei amor igual.  Mas o que falhou?

***

Eu fui felicíssimo ao teu lado, devo-te a vida, e dava tudo pra um recomeço. Olho pra ti e não consigo ainda entender o que te fez desistir. Tal como prometi, eu te esperava e esperaria... Eu não me via no futuro sem ti, mas é tradição, porque agora teria um namoro que durasse mais de 2 semestres?

Ar, não podia, aquele e-mail foi mais que um míssil, estou com o coração devastado.

Hoje é um daqueles dias que nem consigo levantar-me da cama, mas é normal dizem que o Amor sempre vence, se calhar aqui também se alcançou a tal vitória, eu é que não consigo enxergar, deixar ir é também amar.

 

Texto: Osvaldo dos Anjos & Nunes Cristóvão

Imagem: Julian Majin

 

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