Nunca aconselhe ao outro o que tu não farias

 


O Sol começou a raiar, oiço o chilrear dos pássaros; era a confirmação de mais um dia começando e só percebi que era hora de me levantar quando a ventania soprou e abanou a cortina, a luz do Sol veio me beijar. Abri os olhos e peguei o meu celular, liguei os dados como de costume, recebi muitas notificações das redes sociais, mas uma me interessou, a do Gmail. Era uma mensagem do meu amigo que me reencaminhava a conversa que teve com outro amigo seu, sentei na cadeira e comecei a ler:

“Não me zangaria só porque preferiste fazer por escrito, talvez seja a melhor forma para te expressares, mas ficaria ou ficarei triste se notar que omitiste algo que deverias ter partilhado comigo.

Eu não sou psicólogo nem inteligente para fazer esse tipo de análises e aconselhar, melhor dizer, sugerir a minha opinião. Nós dois sabemos que tu és mais inteligente que eu. Esse é um dom de Deus. Mas mesmo assim confias em mim; como disse antes não sou a pessoa certa, não sei se já notaste, que ao me contares algo fico quase sem resposta, mas não porque não tenho ideias, só que não quero cair no pior erro e te levar á perdição. Nunca te aconselharia algo que eu mesmo não faria, pois mesmo para eu agir perante meus problemas levo muito tempo para reflectir no assunto e rezar muito, deixar Deus falar o que devo fazer e o que não devo. Aí dirias, este irmão ficou fanático, a religião está a lhe fazer mal. A verdade é que não. Mas acredito em Deus. Ele tem me dado soluções. Acredita em mim, Ele sempre dá respostas que nenhum humano te daria, apenas deixa-O falar-te.

Como disse não sou perito na matéria, mas com ajuda do Espírito Santo vou tentar responder, ponto por ponto, ao que colocaste nas tuas últimas mensagens.

Vezes há em que sentimos prazer na dor, por sermos vítimas numa relação ou mesmo por amor. A dor por amor dá mais prazer que outras dores. Tu disseste que leste muitos livros de psicologia, respeito essa parte, mas uma certeza tenho, da mesma forma que sabes que nenhum livro pode substituir uma pessoa, (teres procurado por mim para te aconselhar, prova isso), na tua vida também não se pode trocar o amor pelo ódio vice-versa.

Não é à toa que se diz que para superar de algo de género devemos sentir a dor, chorar se possível, aceitar a realidade. Tu sabes, não podemos mudar o passado, mas temos de aceitar o presente porque o presente é único e o futuro nunca chega.

“Todos nós temos traumas, tanto como entes singulares, como sociedade, como povo, quanto como família”, dizia um velho sábio. Somos dum continente que sofreu escravatura, passou por muitas coisas que não preciso de mencioná-las, somos de famílias humildes, temos nossos problemas pessoais. Imagina se guardássemos rancor das pessoas que nos fizeram mal até hoje? Diz-me o que seria da África, de Moçambique sem relações externas com aqueles que nos humilharam, insultaram, roubaram um dia?

Eu acho que rancor para com ela não será solução e nem te vai ajudar a progredires. Tu deves reconciliar-te com o passado, aceitando o que te aconteceu e assumindo-o. Tenho dito, acho que já te falei uma vez: nada acontece por acaso, se não é bênção deve ser uma lição. Tira proveito de qualquer situação que acontecer contigo, usa a dor para produzires mais e não alimentá-la por algo vazio.

Eu sei que podes achar absurdo, mas já te perguntaste por que Ruth não soube dessas loucuras? Por que Ruth fechou a mão por muita coisa e ficou contigo? E por que ela ainda está contigo? Alguma vez colocaste-te no lugar de Ricardo, aquele jovem que nos deu catequese? Cabe-nos a nós aprender disso. Nada acontece por acaso. Tarde ou cedo tu deverias escolher uma. Eu soube da confissão que deu a Marina. Tu amas as duas. Deus decidiu por ti, Deus mostrou-te a pessoa certa, poupou-te de muitas coisas.

Quanto ao assunto sobre o lar, deves pensar profundo. É também como negócio. As aulas de Professor Artur não foram em vão, no momento nos alimentaram e agora usa a análise FOFA em qualquer decisão que tomares na vida.

Dizes que não paraste de te preocupar pela saúde dela embora não mostres. Meu amigo, mostra o que és, o que sentes enquanto podes, amanhã pode ser tarde e se for, nunca te vais perdoar. Eu não digo para entrares na vida dela, mas seres um amigo um pouco distanciado. Cumprimentarem-se, se se encontrarem pelo menos como humanos. Ela tem esperança que um dia poderá corresponder e sempre vai-te saudar. 

Quanto à carta, o adágio popular responde: nem sempre teremos respostas que esperamos das pessoas, tu escreveste no teu contexto. Eras um jovem apaixonado procurando recuperar o amor da sua vida, mas ela era uma amada que se entregava ao outro em troca, não sei de quê, só Deus Sabe.

Dizes ainda que até hoje esperas que algum dia ela te responda. Sim, garanto-te que ela está disposta a fazer isso, mas como te vai responder se não correspondes a um simples Oi dela? Sabias que ela é a única que te pode ajudar a superar? Falei de te reconciliares com o teu passado, só é possível se todas as tuas perguntas tiverem respostas. Infelizmente, ela é a única com as respostas às tuas perguntas.

Estás cometendo um erro grave por quereres ignorar tudo e seguir em frente com Ruth sem nem sequer teres assumido o teu passado. Sabes qual será a reacção entre duas energias opostas (Amor e Ódio) numa única pessoa simultaneamente? Nem eu sei, mas essas duas forças devem agir em momentos diferentes. Não é brincadeira o que costumamos a ouvir das pessoas que dizem “ainda não estou preparado para uma outra  relação, acabo de sair de uma” elas temem misturar as duas energias. Vais dizer que não e ó teu caso, é óbvio, mas são similares e eu não vejo a vantagem do rancor que guardas.

Fico consolado quando terminas tua carta dizendo que o amor que sentias pela Marina já é pertence a Ruth, o teu presente de Deus. E o ódio é necessário?”

O meu amigo termina a carta questionando, talvez essa pergunta seja para mim e para ti também, só se procure, às vezes atrasamos nossa vida por causa destas simples palavras com cinco letras “rancor”.

Aprendi desse amigo, que para ser aconselhado e aconselhar não precisa de ser inteligente, basta, simplesmente, ser humano.

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